quinta-feira, agosto 25, 2005

Oco...

A minha mão vazia. A minha mão vazia sem os teus dedos a nascerem dos meus. Sem os teus dedos entrelaçados nos meus como troncos de árvore que se beijam eternamente.

O coração esburacado. Perfurado. Como se tivesse fome. Sem ter fome. Como se tivesse sede. Sem ter sede. O coração fragmentado. A vontade de não estar aqui. De não estar ali. A vontade de estar em nenhum lado. Nem mesmo dentro de mim. O absoluto vazio que me enche na ausência de ti.

Os olhos errantes. Não quero nada do que me possam dar a ver. Não quero nada. Guardo a máquina fotográfica no saco. Não quero paisagens. Nem retratos. É tudo feio como. Como. Como só a tua falta em meu redor pode ser.

Os dedos doem-me. Como artroses em mãos idosas. Não consigo segurar uma caneta e encostá-la a uma folha vazia. Deslizá-la muito menos. Não quero pensar. Nem relembrar. Nem imaginar-te longe de mim. Porque me faz triste como pardais em gaiolas. Sem portinha para escapar.

Não. Não quero nada. Espero-te apenas. Com as mãos encostadas ao vazio que me separa de ti.

terça-feira, agosto 23, 2005

Trás-os-Montes. Chaves-Avelanoso 2005.

Voltei de lá de cima...

A pureza primordial que me transmitem as paisagens, as pessoas, o ar. A beleza indescritível das noites estreladas (sim, o céu tem estrelas). O pôr-do-Sol mágico por sobre os sinos da igreja. O escoar lento dos dias como de uma ampulheta preguiçosa... não consigo... é inútil... não posso descrever o contraste que há. A alegria que aquela calma me transmite. Aqui. Agora. Os dedos ainda se lembram das rochas que tocaram. Que abraçaram de manhã. Um destes dias. Quando o fumo da cidade. E dos dias. Me engolir. Vou pensar que aqui há Sol e praia e cinema e shoppings. E apesar de sorrir e cantar e dançar. Vou ficar. Vou sentir-me. Triste como uma flor que retiraram da terra e colocaram numa redoma de vidro. Numa janela de um prédio para o desconhecido.