terça-feira, abril 29, 2008

O limbo

Passaram já muitos dias desde que tudo ficou na mesma. Muitos dias desde que o mesmo dia se arrasta à espera de uma noite e de uma madrugada. Passaram já muitas horas, fechadas dentro de si mesmas como se nada brilhasse por fora delas. E passaram os minutos e os segundos loucos. Loucos e iguais. Iguais e cinzentos. Cinzentos e cor de chuva. Ou de pó. Ou será o cheiro? De qualquer modo, passou tudo. Ou terá passado nada? Não sei. Não me recordo. O dia não acaba. Não passa. Não cessa. E por dentro tudo falece. Aos poucos. Como numa sinfonia ao longe, à beira da falésia. Lenta como só as sinfonias lentas. (E ainda mais. Como se os sons não fossem sons, mas fotografias de sons espalhadas pelo céu azul-quase-noite.) Lenta como o repicar dos sinos na igreja de um dia.

Fora isso nada. Como nada? Nada. Uma manhã-tarde que não se despe na noite. Uma luz fosca. Dúbia. Inerte. Que tudo mirra. Que tudo proíbe. Um limbo onde nada cessa. Onde nada principia. Como um calvário à luz gasta de um sol-que-nunca-se-põe.

[Agora mesmo... :)]