sexta-feira, outubro 07, 2005

O teu cabelo...

Não sei quem és. Mas deixaste no meu quarto. No quarto que hoje é meu. Mas outrora não. Um cabelo teu. No quarto. O que agora é meu e um dia foi teu deixaste um cabelo. Não sei quem és. Não sei o teu nome. Não sei se és bela ou feia. Nova ou velha. Igual ou diferente de mim. Não sei. Sei que um dia. Tinhas cabelos. Que se soltavam como folhas num Outono de antigamente. E que o deixaste esquecido num quarto. Que agora (Talvez) tenhas esquecido também.

Fechaste-o num envelope lacrado. Debaixo de uma tábua solta do soalho. E eu não sei. Se lá dentro te guardaste a ti toda do medo do mundo. E do medo que te esquecesse. Fechada. Com lacre. Numa tábua solta da vida.

Não sei se te lembras da tua mão a buscar o envelope. A verter o lacre. Aquecido. A carimbá-lo com o carimbo de madeira gasta que encontraste no sotão, em criança. Não sei se recordas o cabelo. Caído no ombro? Na almofada? Arrancado pelos teus dedos sem idade? (Porque não ta sei.)

Não sei nada disso. Nem o teu nome. Nem o brilho do teu olhar sob a lua cheia de um Verão perfeito. Não sei se te amaria ou não. Se me prenderias a ti como barco num mar agitado se prende ao porto. Só sei a cor do teu cabelo. E a marca do teu carimbo. E o envelope envelhecido.

Não sei nem posso saber. Porque o fizeste. Mas hoje. Aqui. Sem cabelos. Nem envelopes. Nem eu a escondê-los no soalho. Sinto que não sou eu quem escreve estas linhas. És tu. Foste tu que as escreveste. Com a ponta do teu cabelo. E as deixaste. Subentendidas e perfeitas. No vazio aparente do envelope.


Florença 16/09/2005

segunda-feira, outubro 03, 2005

A morte...

Um dia hei-de escrever uma história com personagens que nunca morrem...