terça-feira, outubro 02, 2007

Calor

Searas dos dias.
O tempo seco e abrasador
das palavras inúteis.
Árvores sem sombra.
Fantasmas esquecidos e sedentos.
A distância mentirosa.
O bailado de morte das horas.
Por todo o lado a certeza.
A certeza que corta fundo
na pele árida.
De que amanhã é só uma
palavra poeirenta.





[Há uns meses]

Palavras

Dantes tinha palavras. Guardadas num qualquer saco sem fundo. Escondidas dos locais à superfície da pele, onde podiam sujar-se com a poeira dos dias.
Ficavam resguardadas de tudo. E de mim. Até ao momento exacto em que qualquer engrenagem silenciosa da alma se iniciava. E as pedia insistentemente, como se não houvesse mais nada de essencial na vida. Como se fossem a solução para todos os problemas, a panaceia para todos os males.
Era então que o saco de palavras se abria o tempo exacto para que aquelas necessárias viessem até mim, como pequenos milagres.

Hoje, infelizmente, parece que o saco desapareceu. Ou talvez a engrenagem esteja perra. Ou talvez as palavras tenham deixado de ser essenciais. Não sei bem.

Só sei que. Agora. Já não tenho palavras.