sexta-feira, agosto 04, 2006

Palavras...

Às vezes os dias caem, como se lhes chegasse o Outono.Como se nas folhas caídas das árvores se soltassem pedaços da vida de cada um de nós. Às vezes custa. Levantar a cabeça e sorrir, como se tudo estivesse bem e o mundo fosse um gigantesco parque de diversões, ou um eterno Verão inextinguível da nossa infância. Às vezes custa abrir os olhos na escuridão das tardes, distinguir algo por entre os vultos vagueantes nas nossas ruas, nas palmas das nossas mãos.
Disseram-nos sempre que ninguém se esquece de andar de bicicleta, mas ninguém nos disse que nos esquecemos de tanta coisa, que as nossas memórias se rasgam mais facilmente do que uma folha reduzida a cinzas. Ninguém nos disse que os pôres-do-sol causam habituação e que na poeira envidraçada dos dias que nos arrastam perdem as cores, a magia, o encanto.
Ninguém nos disse que se perdem os amigos por entre os dedos como areia na praia, nem que os nossos castelos de encantar não duram sempre, e se desfazem, sempre, por entre a maré que sobe e o vento que se levanta.
Ninguém nos disse que às vezes os dias caem, como se lhes chegasse o Outono...




Chaves, 07-08-2004 (4:51)