domingo, maio 14, 2006

Assombração

A manhã ergue-se perante os meus olhos como uma assombração. Na cara, o ar gelado, que já foi retemperador. Mas que hoje. É uma sucessão rítmica de chapadas no rosto.
Tudo o que dista 1 metro de mim e dos meus passos é breu. Um véu pesado e opaco cobre o mundo, como se por vergonha, como se de vergonha.
Caminho da luz para as trevas em busca da luz. Túnel enganador e sem retorno, a vida. Pela hora que faz imagino que a vida deva ter retomado o seu curso em algum lugar distante a mim.
Sinto apenas o peso do corpo sobre os pés, sobre os joelhos, sobre as ancas, sobre as costas. Sinto o peso morto da cabeça tombada no peito. E sinto na planta dos pés o arrastar de mais um passo. De mais um momento.

Todas as manhãs acordo e ando em frente. Ando em frente até o cansaço fazer cair a noite sobre mim. Uma noite que é um sonho comprido onde acordo e ando em frente. Ando em frente até a manhã se erguer perante os meus olhos como uma assombração.