quarta-feira, novembro 02, 2005

No fim...

A sensação que fica no fim. Quando tudo termina. E cessa o temporal. O temporal. Avassalador da paixão. Quando nos teus braços o mundo morre. Quando nos nossos braços matamos o mundo por um instante redentor. Cegos de amor. Cegos de desejo. Cegos de eternidade. Para o vermos renascer no instante seguinte. Órfão de nós. E da nossa entrega.


A sensação que fica no fim. Quando tudo termina. Como se ao olhar para ti não te reconhecesse. Como se não houvesse nada para dizer entre os dois. Como se. Depois de passado o temporal. Ele te devesse ter arrastado para muito longe. Para onde os meus olhos não tivessem que. Mergulhar na imensidão sem fim dos teus. E perceber que brilham ainda. Brilham ainda. Sem medo dos silêncios que agora nascem do nosso suor. Sem medo do espaço vazio que agora cresce entre nós com a consistência de um muro. Transparente. De betão.


( Não sei se te acredite. Não sei se te deixe rasgar-me a pele. Para que escrevas nela o teu nome. Como na areia da praia se escreve o nome de quem se ama. Eu escrevi. Mas faz tanto tempo. Tanto tempo. E hoje não sei se se apagou quando voltei as costas. Com a primeira onda. Ou se resiste ainda. Fóssil de amor numa praia que não esqueci. Não sei. E não me olhes como se o mundo inteiro fosse acabar sem nós. Não me olhes como se não tivesse acabado já. Não me digas que não sentiste. Que não sentes. A tristeza que fica no fim. Quando tudo termina. A mesma que me impede de continuar a olhar para o teu rosto. Não me digas que sabes que o brilho do teu olhar é mais forte do que o muro que tento... transparente ...erguer em meu redor. Não sei se confie que não matamos o mundo ainda há pouco. Que há mais luz para lá desse instante irrepetível. Ainda que assim seja. Não sei se me queime no teu fogo. E arda contigo numa chama. Que dizes. Não terá fim...

... Ainda que assim seja. Ficarei preso a ti por laços que nada poderá quebrar. E as tuas ausências hão-de me doer mais do que murros no estômago. Tudo em meu redor me fará lembrar o teu rosto. E nada. Nada. Me poderá consolar enquanto não regressares. Nem a vida. Nem. A vida. )

...

A sensação que fica no fim. Quando tudo termina. E procuro o teu olhar. E te sorrio. E te abraço. E a nossa vida futura se inventa nas palmas das nossas mãos. Com uma casinha branca. Um jardim com uma árvore grande e um pneu a baloiçar de um ramo.

Sem silêncios ou muros transparentes. Só. Ao fundo. Uma cerca de madeira...