quinta-feira, setembro 20, 2012

Um dia.

Que raio é, afinal, um dia? Um dia, apenas. Um dia não é mais do que uma onda num oceano presumível de dias. Onda que desagua em nós. Ou na qual desaguamos. No nosso corpo persiste a lembrança ténue e vaga de todas as ondas. De todos os dias. Em que já nos banhámos. Que já vivemos. E nada mais. Apenas uma ténue e fugaz lembrança de algo que já foi. De algo a que chamamos, talvez inocentemente, passado. A questão é que cada novo dia. Cada nova onda. É vivo. É real. Traz a embriaguez egoísta do momento. Perante ele todas as sensações de outros dias. As ténues e fugazes sensações. Parecem desaparecer. Desvanecem-se, esbatidas, contra o poderio tremendo do presente. Naquele momento. Neste momento. Nada mais interessa. Nada mais importa. Nada mais existe. Fora deste dia, tudo é passado. Tudo são lembranças, que podem ou não ter acontecido. No fundo, quem nos garante que o ontem existiu mesmo? Que não é apenas uma ilusão? Mas o hoje não! O presente não! Ele está aqui, agora! Ele está aqui à mão de semear! Oferece-se perante nós e desenrola-se perante o nosso olhar. Nele podemos intervir. Nele podemos sorrir e chorar. Amar e odiar. Nele podemos tudo. Só neste dia presente podemos tudo. Tudo o resto é história. Lenda. Talvez contenha um fundo de verdade, mas nada mais que isso. Mas hoje não. Hoje estamos aqui. Tu e eu. Nós todos. Agarrados na vertigem de montanha-russa do tempo. Estamos na crista da onda, eu e tu. Podemos surfá-la se nos apetecer. Ou outra coisa qualquer, na verdade. Bebê-la a golos sôfregos e sedentos. Saciar a sede de tudo enquanto a onda nos rebenta na cara. Ou fechar os olhos e escutar, apenas, o ruído da rebentação do dia. Contra as rochas. Contra a areia. Contra os corpos.

Mas no fim de tudo. Depois da embriaguez do momento omnipotente passar. Depois da onda cessar e esmorecer em nós. Agora, que o dia termina e um novo se adivinha ao fundo, no horizonte. Intrigante e cheio de si. Prometedor e desejado. O que é, afinal, um dia? Senão uns suaves salpicos de lembranças (Ténues. Fugazes) que sentimos impregnar-se em nós. Mesclar-se com o sal de dias passados. Dissolver-se em algo que pode ter acontecido, talvez. Mas que não podemos jurar a pés juntos que tenha mesmo sido assim. Que tenha mesmo sido real.

A verdade é que um dia não é nada, depois de terminado. Nada.
Mas enquanto dura. Enquanto nos pertence e lhe pertencemos. É tudo. Tudo o que temos.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial