quarta-feira, março 16, 2005

Estilhaços de nós...

A vida é uma sucessão de dias que vamos rasgando de nós...

Deixamos recortes de nós espalhados por todos os lados onde vivemos a nossa vida. Em cada casa, em cada recanto, em cada sítio visitado deixamos pedaços que o tempo retalha do nosso corpo com a lámina fria do esquecimento...

Há tantos sítios onde fomos felizes... Tantos sítios-tempo onde fomos as pessoas mais felizes do Universo mesmo... os locais não existem só por si. O local de ontem não é o local de hoje nem será o local de amanhã. Os locais têm tempo em nós... e dos nossos dias perfeitos vamos guardando as boas memórias como cabeçalhos de uma notícia muito longa da qual perdemos o texto principal...

Fragamentamo-nos em tantos sítios, em tantas ocasiões, em tantas pessoas. Estilhaçamo-nos em mil pedaços que ninguém jamais poderá recolher. A vida não é a vida temporal e linear. A vida é o somatório de todas as partes que fomos, que somos e que seremos, em todos os lados por onde passamos.

Vamos construindo um puzzle gigante de nós mesmos que fica completo no dia em que partimos.

Ah... não ter trazido do ontem mais do que memórias dos dias que nunca mais voltarão... a raiva de ter sido EU então... e de ser EU agora... e do mundo todo não me ter acompanhado.
Vamos perdendo tanta gente na vida. Gente que nos faz mais falta do que oxigénio. Gente que não esqueceremos jamais porquanto vivermos, porquanto formos gente. Somos uma recordação viva daqueles que partiram antes de nós. Somos o garante, a certeza, a confirmação de que existiram.

A sua vida teve sentido porque nós sabemos. Porque nós nos lembramos. Porque foram importantes para nós. Porque criaram o nosso mundo. Porque nos ajudaram a crescer.

Porque nunca os esqueceremos mesmo agora que partiram e nos deixaram tristes e sós agarrados à memória insipiente e transparente que restou das suas vidas fortes e cheias de cor...