quarta-feira, janeiro 26, 2005

Descartáveis de nós...

Tudo... tudo não quero dizer... há ainda uma réstia de esperança que me impede de o fazer... mas esquecendo-me dela por instantes, tudo... tudo hoje em dia é descartável. Temos comida descartável, pastas de dentes descartáveis, lentes descartáveis, dentes descartáveis, mãos descartáveis... tudo, hoje em dia tudo se descarta... temos livros de ler e deitar fora, temos televisão que dá vontade de vomitar, temos jornais que são oferecidos de borla pelo preço de nos encherem a mente de tanta coisa que não nos falta e que se insinua dentro de nós com informação descartável... temos música para ouvir agora e esquecer, adeus até nunca mais... temos mulheres descartáveis, sempre as tivemos... mas hoje são descartáveis por dentro, como um presente daqueles que no ciclo dávamos aos colegas, embrulhado numa gigantesca caixa de cartão cheia de fiapos de jornal e esferovite, bem lá no fundo, uma qualquer insignificância de espaço... minto, esses presentes não eram insignificantes de sentido... há conversas descartáveis que nos entram e saem dos ouvidos todos os dias como o comboio que agora não passa no Rossio... há amizades descartáveis... há sonhos descartáveis... há tanta coisa que passa por nós sem nos marcar minimamente, sem nos tocar, como se carregássemos cá dentro um deserto imenso e árido que nenhuma miragem de oásis pode salvar...


Tudo... tudo não quero dizer... há ainda uma réstia de esperança que me impede de o fazer... mas esquecendo-me dela por instantes, tudo... tudo hoje em dia é descartável. E caminhamos pelos nossos dias como prisioneiros à solta num mundo cheio de prisioneiros andantes como nós... aparentemente tão perto... e inalcançáveis uns dos outros como se nunca tivessemos existido...

25 para 26-01-2005