segunda-feira, dezembro 06, 2004

Fuga dos dias

Rasgar os dias com um raio de luz. Correr desesperadamente até atingir as margens do cansaço feito pedra para repousar. Gritar bem alto até acordar os pássaros voando em círculos despreocupados por cima das cabeças. Sorrir para toda a gente como quem chora e se verte até ao chão. Não olhar para trás com medo de perder os dedos na espessura do nevoeiro. Desembainhar a espada de luz das costas ensaguentadas e rasgar o dia em dois. Sufocar no ar engolido a golfadas sôfregas e tropeçar nas montanhas e vales da calçada. Descer esta rua depressa como quem quer saltar do abismo. Sacudir das mãos a esperança para os bolsos de alguém. Saltar por cima destes prédios e aterrar do lado de lá do espelho... Onde um prado e flores e uma árvore ao fundo para adormecer.