terça-feira, maio 17, 2005

Doem-me os olhos...

Doem-me os olhos na lucidez ofuscante dos dias.
Perco-me entre mil olhares desencontrados.
Entre corpos de aço que escondem vidas sem nome.
Outros são capazes.
Eu não.
De caminhar sem parar e olhar sem ver.

Capto ecos inaudíveis de dores alheias guardadas do mundo.
Onde os olhares não chegam.
Que os cumprimentos de mão não podem afagar.
Que as perguntas banais não arranham.
Dói tanto.
Ter de fingir banalidades quando há um rio de coisas por dizer.
Um oceano inexplorado de coisas por perguntar.

Tantos porquês.
Escondidos na noite escura dos dias.
Na frivolidade superficial dos "Olá. Tudo bem?".
Tantos sonhos encurralados no metro em hora de ponta.
Tantas vidas desfeitas sorrindo-nos em toda a parte.
Tantas solidões aparentes cheias de alegria por dentro.

A vida é uma oportunidade.
Para dar rosto ao Universo informe que nos rodeia.
E que atropelamos com o olhar, no caminho de casa.