quinta-feira, outubro 27, 2005

Noites brancas

São 7 horas da manhã e eu sem sono. Eu. Ainda. Sem sono. Trago agarrados ao corpo os destroços de um dia que ainda não consegui terminar. Sou navio abandonado sem conseguir içar âncora. Para rumar a um novo dia. Estou ancorado. Acordado. Há tanto tempo que perdi a noção das horas. A sensação dos lençóis debaixo do corpo. A suavidade da almofada debaixo da alma.

( A raiva de não ter nascido igual aos demais. A raiva de querer ser sempre diferente. De não ter leis que me prendam os movimentos. De ser livre como vento em alto mar. E agora isto. Preso nas horas trocadas da vida. Durmo quando todos acordam. Acordo quando todos dormem. Uma solidão sem nome. Sem rosto. Sem mãos que me toquem e me digam que está tudo bem. E que lá fora apenas um dia de Sol. Não uma noite ventosa e sem estrelas. Um dia de Sol e pássaros a cantar. Que só não oiço porque o comboio que passa faz muito barulho e eles esvoaçam para outras árvores. Sem braços que me abracem e me façam festas no cabelo enquanto. Uma lágrima. Agradecida. Rola pelo rio da minha face. Até ao ombro invisível que me falta. )

Saio dos dias como se deixasse a pele em cada um. Como se viver custasse muito. Muito. Chego à noite vergado. E atravesso a noite como um calvário. Carregando aos ombros a cruz de ser quem sou. Sem ninguém para salvar no fim do caminho. Onde. Me morro. Dia-a-dia. Um pouco mais.

terça-feira, outubro 25, 2005

Eu. Aqui?

Os olhos abertos. A mão suspensa no ar. Como quem escuta o que não se pode escutar. Como quem entende para lá das coisas. Há dias em que não sei ser eu. Não sei pegar em mim e colocar-me dentro deste paraíso. Que é. A vida.

Correm horas. Dias. Semanas. E estive em qualquer lado. Tive que estar em qualquer lado! Mas não aqui. Não em mim.

Abro os olhos. De surpresa. Por ver pele. E dedos. E mãos. E peito. E pernas. E braços. E tronco. E pés. Abro os olhos de surpresa por me ver.

E gostaria de. Um dia. Entender como. E porquê. Gira o mundo em meu redor. Como se eu devesse girar também. Como se eu devesse dançar. E não sei. Não quero saber dançar. O mundo que dance sem mim. Só preciso de. Uma caneta. E de ti. Meu amor. De ti.



[Escrito não sei quando. Não hoje.]