terça-feira, julho 19, 2005

Se tivesse sido assim

O frio do fim de uma noite qualquer em que te perdi como se nunca te houvesse tido. Ou pior. Pior do que isso porque não consigo. Não posso. Não me faz bem. Negar que te tive. Se a vida fosse um quadro a negro. Como os da escola primária. E as pessoas. Os sítios. Os acontecimentos. Fossem gravado a giz branco (que seca as mãos e corrói os dedos do uso excessivo). Se fosse assim agarrava num apagador e eras passado. Eras zero. Porque nunca terias existido. Abrindo um espaço vazio. Por preencher cá dentro. Assim não. Perdi-te mas ocupas o espaço do quadro. Não consigo escrever poemas. Nem prosas. Nem sequer ligar frases umas às outras (por isso só pontos finais. Pontos finais apenas. Nada mais. Pontos finais). Não consigo. Fechar os olhos e apagar-te da memória. Esquecer tudo. Tudo o que foi e tudo o que não foi. Tudo o que doeu e tudo o que não doeu. Não consigo ainda. Ser eu outra vez. Rasgar as folhas deste caderno que vai sendo longo. E começar uma página em branco num qualquer nascer-do-Sol. Porque o Sol há-de nascer dia após dia. Para me lembrar.

Que apesar de tudo... Algumas coisas...

Podem ser eternas.