segunda-feira, outubro 01, 2012

Diasertos

Agora os dias são apenas dias. Dantes eram qualquer coisa de mais especial. Havia neles um entusiasmo qualquer. Fosse ele estival ou juvenil. Ou de qualquer outro tipo, não sei. Neles habitava aquela esperança incerta e sonolenta pela manhã, que fazia com que sair da cama não custasse tanto. Com que fosse aceitável e necessário.

Nesse tempo cada despertar estava inconscientemente ligado a um qualquer objectivo. A um qualquer fim. A um qualquer desejo ou a uma qualquer vontade. A qualquer coisa que fazia com que valesse a pena saber que aquele dia era o dia X e que o dia seguinte seria o dia Y. E por aí fora. E isso ajudava a manter uma noção do tempo. Os dias da semana tinham nome e estavam radicalmente separados do Sábado e do Domingo. E havia meses, também.

No fundo, residia em cada dia a vaga sensação de que, antes que ele acabasse, poderia haver uma recompensa. A convicção de que havia uma guloseima por descobrir (e desembrulhar. E lambuzar.) entre os instantes do dia. De que bastava saber procurá-la que ela surgiria, algures, à nossa mercê. E que isso, de alguma forma, daria significado e sentido ao dia. Aliás, era esta motivação que enchia os dias de algo mais do que horas e minutos. Era esta motivação. E não o facto de se concretizar ou não.



Agora (está bom de ver) os dias são apenas dias. Amorfos e indistintos entre si. Anónimos. Deixou de ser essencial nomeá-los, separá-los, ordená-los. E, por isso, também já não há fins-de-semana nem meses.

Agora. Que já não há objectivos. Nem vontades. Nem guloseimas que desejar. Os dias são apenas dias. Um longo e aborrecido deserto de segundos, minutos e horas. Pelo qual temos de vaguear.

Sedentos, sem destino e sem oásis por encontrar.

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