quinta-feira, março 05, 2009

As palavras (I)

As palavras fogem de mim como o Diabo, dizem, da cruz. As palavras aparecem-me à frente vestidas de oiro e marfim, esmeraldas e rubis. Para desaparecerem antes de as conseguir perceber. Antes de as conseguir fotografar e de as poder chamar minhas.

As palavras, que já não sei se são doces, se amargas. As palavras onde já não me sei povoar. As palavras ocas como as paredes falsas dos escritórios. As palavras cruéis que me fazem vagabundo dos dias, caminhante num deserto de silêncio. As palavras sozinhas. Solteiras. Sensaboronas. Suspensas num cinzento assustado.

As palavras para onde quero correr de braços abertos. Prados de palavras de todas as cores, cheiros e formas. As palavras a serem a sombra de uma árvore que desejo com a força visceral de ser um Homem. As palavras que são rios a correr na distância do ouvido, pássaros a inundar os campos de felicidade.

As palavras. Sem saber que as palavras não são mais do que letras e sons esquecidos na poeira de um caixão fechado.


[Num dia qualquer do passado...]

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