Sentinelas
Acabou o tempo e semeámos rosas da palma das mãos. Por cima de nós os restos de um dia que se punha. Ao longe. No horizonte de montes sobrepostos.
[Os montes mágicos. Soprados por uma ténue aragem de fim de tarde de Verão. Com árvores dispersas e espaço para sonhar entre elas. Os montes que eram promessas adiadas. Que apeteciam tanto como uma guloseima guardada no bolso da camisa. E o prazer de não a comer. De a ter guardada. A fazer aumentar. Segundo a segundo. Minuto a minuto. Hora a hora. A deliciosa expectativa do momento por vir. Do desembrulhar crepitante do papel de embrulho. Mais intenso. Mais nítido. Do sabor todo na ponta da língua. Na língua toda. Não só o corpo, mas a alma também, a saborearem mais que a guloseima. A saborearem a vida. Assim apeteciam os montes.]
Depois das mãos vazias. Do dever cumprido. O ar tornou-se mais pesado. Com cheiro a noite sem luar. Na mesma altura começou a lenta melodia dos sinos da igreja. Grave. Soturna. Compassada. Como pancadas ameaçadoras na soleira da alma. Como medos vertendo-se para dentro das gentes.
[ O ruído tenebroso dos sinos. A lembrar-nos da nossa mortalidade. A maneira como ecoa no negro. No silêncio da noite. Como cada badalada carrega todas as coisas sérias. E reais. E inevitáveis. Da vida. E como. Cada intervalo de silêncio entre elas. Dura eras. Eras cheias de tudo o que não cabe fora delas. Memórias dos que se foram. Sorrisos da pessoa amada. O calor do Sol a bater no rosto numa qualquer tarde de Primavera. O cantar dos pássaros na distância. O suor a escorrer da testa. A cair na terra acabada de sachar. O som do vento entre as folhas das árvores. O recreio da escola. A gritaria dos colegas. O ruído dos grilos. E depois outra badalada imperturbável. Convicta. A impregnar o ar de arrepios na espinha. E isto repetido. Uma vez. Duas vezes. Muitas vezes. Até tudo cessar em silêncio.]
Então fechámos os olhos. De-mo-nos as mãos. Sorrimos ao de leve. E. Calmamente. Caminhámos de encontro a um novo amanhecer.
[2008...]
[Os montes mágicos. Soprados por uma ténue aragem de fim de tarde de Verão. Com árvores dispersas e espaço para sonhar entre elas. Os montes que eram promessas adiadas. Que apeteciam tanto como uma guloseima guardada no bolso da camisa. E o prazer de não a comer. De a ter guardada. A fazer aumentar. Segundo a segundo. Minuto a minuto. Hora a hora. A deliciosa expectativa do momento por vir. Do desembrulhar crepitante do papel de embrulho. Mais intenso. Mais nítido. Do sabor todo na ponta da língua. Na língua toda. Não só o corpo, mas a alma também, a saborearem mais que a guloseima. A saborearem a vida. Assim apeteciam os montes.]
Depois das mãos vazias. Do dever cumprido. O ar tornou-se mais pesado. Com cheiro a noite sem luar. Na mesma altura começou a lenta melodia dos sinos da igreja. Grave. Soturna. Compassada. Como pancadas ameaçadoras na soleira da alma. Como medos vertendo-se para dentro das gentes.
[ O ruído tenebroso dos sinos. A lembrar-nos da nossa mortalidade. A maneira como ecoa no negro. No silêncio da noite. Como cada badalada carrega todas as coisas sérias. E reais. E inevitáveis. Da vida. E como. Cada intervalo de silêncio entre elas. Dura eras. Eras cheias de tudo o que não cabe fora delas. Memórias dos que se foram. Sorrisos da pessoa amada. O calor do Sol a bater no rosto numa qualquer tarde de Primavera. O cantar dos pássaros na distância. O suor a escorrer da testa. A cair na terra acabada de sachar. O som do vento entre as folhas das árvores. O recreio da escola. A gritaria dos colegas. O ruído dos grilos. E depois outra badalada imperturbável. Convicta. A impregnar o ar de arrepios na espinha. E isto repetido. Uma vez. Duas vezes. Muitas vezes. Até tudo cessar em silêncio.]
Então fechámos os olhos. De-mo-nos as mãos. Sorrimos ao de leve. E. Calmamente. Caminhámos de encontro a um novo amanhecer.
[2008...]
3 Comentários:
thank you!
For its beauty its simplicity .I imagined myself in it , my live , my stories and my dreams of some day walking hand in hand towards the dawn of the beginning of a new life and finally finding the meaning of life and the miracle of my birth...
While reading the description I could actually see the mountains and smell in the air its humidity, the fragrance of the flowers and the chirping of the birds flying around busy ,playing living...
I could actually savour the sweat dripping from my face into the top of my lips and the salt in my eyes..
I took your words and your vision and made it mine if only for a second and I am graciously giving it back to you and for that moment and for that possibility for that dream I say once again thank you for allowing my soul to fly and dream...
Não tenho palavras para lhe agradecer o comentário que fez a este texto. Fiquei felicíssimo ao lê-lo. Muito obrigado.
De verdade!
It was my pleasure...
Please keep doing what you do best and allow us simple mortals to fly in the wings of your imagination!!..
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