quarta-feira, março 04, 2009

Ausência

Sem ti, a solidão fria dos montes aperta-me o coração contra o peito. Como se, a qualquer momento, se fosse esmagar, ou antes, rebentar como um balão vermelho e palpitante. Sem ti custa tudo. Até respirar se me tornou uma tarefa hercúlea. De modo que, agora, não se pode dizer que respiro, mas antes que arquejo pelos dias, como quem se arrasta, nú, sobre um caminho de silvas e tojos. Não percebo a força imensa que o amor carrega, escondida por baixo da capa de liricismo. A força que acende o mundo todo, dando as mais belas cores aos montes, aos rios, às pedras, aos vales, às árvores, ao mar e ao céu. A mesma força que pode, quando o amor acaba - ou se perde, ou se esvai, ou se adia, ou se apaga - pintar, de um só fôlego, todo o Universo de um negro mais fundo que a noite dos tempos, antes de algo ter existido.

O amor é a força mais poderosa que existe. E é tudo o que direi, pois em meu redor, o frio da noite espalhou-se já pelos montes e, cá dentro, o coração bate, pequenino, de encontro à muralha pétrea das costelas.



[2007]

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial