quinta-feira, setembro 06, 2012

Óculos de sol

Não sei. Nem quero saber. O olhar longe, perdido entre o horizonte (Barcos. Tons de azul. Calor). Nem quero olhar. Nem quero ver-te aí. Ao meu lado. Inteirinha saída da minha imaginação. Sem tirar nem pôr. Criada não à minha imagem. Mas à imagem das imagens dentro de mim. Toda tu ainda coberta do sangue e dos restos da placenta dos meus pensamentos. Dos meus desejos. Dos meus sonhos.

Mesmo assim, não quero olhar. Por mim desaparecias. Agora. Agorinha. Voltavas para dentro de mim. Para dentro do sótão escuro e reconfortante que trago comigo. Nem quero saber se estás aí ou não. É inútil. Inútil como uma tarde de fim de Verão à beira-mar. Se me concentrar, consigo. Se me concentrar desvaneces-te no ar. Eu sei que sim. Sei que não existes. Sei que. No fundo. Tudo não passa de um delírio causado pelo calor e pelo Sol a mais (a minha avó e a minha mãe a dizerem-me que "na moleirinha"). És impossível. Irreal como uma miragem no deserto.

Fecho os olhos com força. Hei-de conseguir. A claridade alaranjada do Sol a trespassar-me as pálpebras. A lembrar-me que não sou cego.

( Em pequeno a ideia de que se fechasse os olhos ficava como um cego. "Via" como um cego. O choque quando um dia percebi que a luz entra. A luz passa. A luz atravessa as pálpebras e chega à retina. Mesmo de olhos fechados. Mesmo usando muita força.)

(...)

Não consigo. Nem precisei de olhar de soslaio para o lado para saber que continuas aqui. Nem precisei de abrir os olhos. Continuo a sentir-te. Através dos olhos fechados, a tua luz chega até mim. E é forte. Intensa. Ironicamente, quase me cega.

De repente, dá-me vontade de sorrir. Sorrio. Ainda de olhos fechados. Imagino o teu sorriso e o teu olhar. Viro-me para o lado e olho para ti. À espera de os ver desenhados no teu rosto tal como se o desenhador tivesse sido eu. Ohhhh...

Mas são diferentes. És diferente. Nítida. Possível. Real.

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