sábado, maio 06, 2006

Sem milagres

Para mim qualquer palavra é um milagre. É o problema de falar tão pouco. É o problema de pensar tão pouco.
Cada palavra aparece como uma inspiração divina. É por isso que escrevo com unhas e dentes, agarrado às palavras que me cruzam o cérebro, como comboios pendulares, de tempos a tempos. Quando não as consigo segurar, devido à velocidade com que vêm, atiro-me para a frente delas. E sou então atropelado por toneladas de aço feitas palavras desconexas, retorcidas, cinzeladas.

Procuro palavras novas. Palavras que todos conhecem. Menos eu. Palavras que nunca escrevi em lado nenhum porque não estão no saquinho das palavras que guardo comigo desde que me conheço.
Às vezes aproprio-me de palavras gastas como se fossem a Salvação. A Redenção. A Ressurreição.
Outras vezes as palavras perdem a magia e devolvo-as à escuridão negra do saco sem fundo.

Não tenho nada comigo. Ne letras. Nem palavras. Nem sonhos. Nem desilusões. Sou uma pessoa fechada. Que se deixa existir vezes demais. E se entrega nos braços atrofiantes do ócio mental.

Para mim. Qualquer palavra. É um milagre.


[Há cerca de um ano atrás. Nestes dias as palavras ainda custam mais a segurar do que nessa altura. Não passam comboios...]

4 Comentários:

Blogger Barba Rija disse...

precisas é de uma viagem, vai ver coisas! vai viver, porra. há mais coisas no mundo do que toda a minha filosofia e toda a tua solidão! é infinito, é impressionante...

2:23 da manhã  
Blogger Pirata disse...

Temos de ir viajar juntos! Nos meus planos está uma viagem à volta do mundo, por todos aqueles lugares isolados e aldeias remotas que vemos nos documentários da National Geographic. E uma à volta da europa, mas esta de autocaravana e mais cultural...

Um dia vou.

3:22 da manhã  
Blogger Pirata disse...

Ah...e a primeira, à volta do mundo é de TT mesmo :D

3:22 da manhã  
Blogger Barba Rija disse...

De TT? Pois isto de ser médico tem estas vantagens....!! Quanto à viagem, ora isso é que era!

11:54 da tarde  

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