sexta-feira, julho 11, 2008

As gavetas do quarto...

Abri outra vez uma das gavetas. Uma das muitas espalhadas pelo quarto. Tantas que o quarto parece existir para que elas o encham. Abri uma das gavetas e tudo recomeçou. Mais uma vez o vórtex (Gosto da palavra vórtex. Será que deveria escrever vórtice? Não me interessa. Vórtex.) aspirou-me para outros tempos. Outros dias. Outros eus.

E mais uma vez fui a Alice a cair pela toca abaixo. E à frente dos meus olhos incrédulos desenrolaram-se imagens do passado. Imagens em papel timbrado. E por timbrar. Palavras e mais palavras. Frases completas vindas do silêncio sepulcral de cartas e postais. E mais cartas. E mais postais. Frases de amor e de dor. Palavras meigas. Palavras duras. Palavras afiadas como facas no peito. Palavras moles a desfazerem-se na ponta da língua. E mais postais de todas as cores. Paisagens que nunca visitei. Envelopes brancos com rebordo azul. Envelopes brancos. Vermelhos. Outros com laivos de cor-de-rosa. Envelopes castanhos em papel reciclado. Letras por todo o lado. De todos os tipos. Azuis e pretas. Vermelhas. Cor-de-rosa ou de outra flor qualquer. Letras redondas. Letras esguias. Letras tombadas ora para um lado ora para outro. Letras cheias de vida. De vidas.

Foi como se se levantasse dentro do peito uma tempestade. Um furacão que varre qualquer coisa por dentro da alma. E deixa tudo meio vazio. Meio triste. Meio incompleto. Meio sozinho.

Num ápice, no entanto, tudo acabou. Não caí no fundo da toca. Ou da gaveta. Apanhei simplesmente o passado. Os passados. Do meio do chão para onde haviam caído e por onde se haviam espalhado. E guardei-os bem no fundo da gaveta.

Depois fechei-a.

E aqui fiquei.


[Hoje]

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

é sempre bom relembrar o passado... :)

4:13 da manhã  
Blogger Fartura disse...

algumas dessas letras fui eu que as perdi....

10:49 da manhã  

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