quinta-feira, julho 27, 2006

Impressões

O fim do dia a cair sobre a terra como um véu das mil e uma noites. Com uma promessa de ilhas paradisíacas suspensas num pôr-do-Sol perfeito.
O fim do dia a esbater suavemente cores, cheiros, sons e a acender levemente, no seu lugar, uma sinfonia nocturna.
O ritmo melancólico. Doce. Que se vai lentificando sem se tornar lento. O ritmo dos lavradores a retornarem do campo com as sacholas no ombro e a boina levantada. O cabelo agora descoberto. Grisalho como a vida. A mão que desliza sobre ele como arado sobre terra por semear. Mais um passo amortecido pela estrada de terra batida e na face uma gota de suor vai descansar de encontro ao sobrolho. A boina a regressar ao topo da cabeça. A camisa desabotoada. Dois botões e o peito queimado por tantos sóis. A mão a buscar o bolso. A buscar dentro do bolso. O lenço azul com a inicial cosida. Companheiro quando o calor aperta e faz chorar a pele em demasia.

Mais um passo. O virar da esquina. E no canto do olhar acende-se um brilho moreno e vivo.

Lá ao fundo. De pé no topo das escadas de pedra, uma frágil figura espera. As mãos enrugadas repousando sobre o avental azul. O cabelo apanhado num carrapito no cimo da cabeça. Nos pés socas de madeira sujas de terra. E no rosto a alegria serena. E sábia. Do amor.


[26/07/2006]

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