terça-feira, novembro 29, 2005

Na areia deserta

Depois que te foste embora os dias cresceram em mim como heras em fachadas de casas esquecidas. Perdi-te há tanto tempo que talvez tenhas partido só ontem. Estás tão perto como se tivesses partido há séculos. Rebolo-me na areia deserta da praia


( Em criança. Sempre que saía da água atirava-me para a areia solta e rolava. Rolava. Rolava. Até não haver. Até me parecer não haver. Um pedaço de pele despido de areia. E depois a corrida para a água e tudo outra vez. E tudo outra vez até o cansaço anunciar o pôr-do-Sol e o regresso )


à tua procura. Mas não vejo nada para além da solidão da maré. Não vejo nada para além do frio nos pés. Não vejo nada para além do guinchar de uma gaivota na distância invisível. Não vejo nada e se mãos na cara apenas para fugir de mim. A areia gasta no meu corpo. O meu corpo gasto na areia onde. Ontem? Há um ano? Há uma década? Onde mergulhámos as mãos. E as demos. E as deixámos ficar entrelaçadas debaixo do areal. E vimos o luar sobre as águas iluminar um barco ao longe.

O resto foi apenas o resto. Guardámos o nosso amor nesta praia. Para nunca o perdermos. Disseste que para nunca o perdermos. Disse que para nunca o perdermos. Onde está? Digo. Aqui? Além ao fundo? Nada. Apenas uma gaivota a guinchar. Agora visível e feia. E eu feio. Com areia colada ao corpo e sem a esperança de criança para correr para a água e recomeçar tudo outra vez.



19/11/2005 06:00

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