domingo, novembro 20, 2005

Os meus olhos

Os meus olhos diferentes de olhos. Os meus olhos que não olham para as coisas como se olha para as coisas. Que olham para as coisas como se as procurassem. As atravessassem. As esquecessem. No mesmo instante.

Os meus olhos que prendo no vazio de qualquer local. Que vagueiam por multidões de olhares como por um deserto sem oásis. E se demoram em silêncios que não consigo explicar. E me embaraçam na frieza das ruas de Inverno.

Os meus olhos quase negros como noite sem luar. Quase profundos como a dor da ausência. Os meus olhos diferentes de olhos. A desenrolarem nas distâncias horizontes distintos. A projectarem na tridimensionalidade do espaço ecos vagos do que trago. Tatuado. Por dentro.

Os meus olhos tantas vezes vazios. Vazios como se ocos. Vazios como se virados para dentro de mim. Vazios como se dentro de mim também um vazio oco e sem nome. Vazios como vasos vazios de flores.

Os meus olhos muito abertos. Arregalados como se o mundo se reinventasse a cada instante. Como quem nunca aprendeu a habituar-se às coisas às quais é necessário habituar-se. Os meus olhos sem passado. Sempre espantados no presente primordial.

...

Os meus olhos diferentes de olhos. Os meus olhos que não olham para as coisas como se olha para as coisas. Que olham para as coisas com o olhar que as coisas teriam se olhassem para nós...




20/11/2005 06:12

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