terça-feira, fevereiro 22, 2005

Há tanto tempo...

Há tanto tempo que não. O tempo passa. Horas atrás de minutos. Minutos atrás de segundos. Tanto tempo sem. Apeado como no entardecer de um dia por inventar. Fora de mim. Há já tantas noites que não. Tantas tardes gastas sem. Manhãs inteiras e nada. Escrever fugiu-me da ponta dos dedos. Escondeu-se a tinta nas canetas da escrivaninha. Longe de mim. Tanto tempo já sem rasgar o corpo. Sem me cortar. Sem jorrar de mim o sangue azul das palavras. Sem perguntas. Sem respostas interrogadoras. Sem dedos doridos do uso. Tanto tempo de mãos imaculadas. Sem raios de luz a substituir os dedos. Sem espada mascarada de caneta. Há já quantas semanas. Sem sonhos pintados no céu da vida. Sem loucuras por fazer no fundo dos dias. O relógio sem falhas. Sem pausas. E nós assim. Frágeis. Intemporais como grãos de areia. Eternos como a brisa que passa. A perder palavras por entre as mãos como em crianças. Na praia. A soltar banalidades ao vento. Onde dantes semeávamos esperança. As mãos cheias de nada. De um nada escuro e oco. Os dias sem. As noites sem. As tardes sem. Sem frases não-feitas. Sem conversas não-fúteis. Tanta saliva gasta a formar frases que ninguém quer ouvir. Tantos olhares gastos na poeira reluzente do dia-a-dia. Sobram-me tantas miragens no fim do dia. Tantas coisas por ver entre a multidão. Choro-me criança na solidão de mim. Sofro sem saber. Pelos dias. Pelas noites. Pelas tardes. Que passo sem. Que passei e passarei sem. Me verter do molde humano que tenho para o papel na forma de letras. Me desintegrar na alegria de uma estrofe. Me reencontrar nas entrelinhas da vida. Tantas horas voaram já sem. Que eu me escreva pelos recantos acolhedores e familiares de uma folha de papel. Havia tanto tempo que não.

13-14/02/2005

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