quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Fugiste...

Fugiste um dia de mim. Partiste enquanto, enquanto… Lá fora a noite escura, o céu azul-negro a sussurrar ao vento as palavras que eu não entendo. A cama agora despida, vazia, amadurecida no calor dos teus braços e agora nua no Inverno de ti.

Fugiste. Em direcção ao longe, ao além que desejavas em segredo, em cada silêncio, em cada olhar vago, em cada gesto de mão enfastiado…agora não, fala-me disso mais logo… agora não… agora ?… não… Na noite branca ficou a memória de ti, indelével como uma mancha de café, e na casa os ecos do teu riso abafado, comprometido. Lá fora as pegadas... serão pegadas?... perdem-se entre o portão e a curva do caminho. Não há estrelas no céu de nós. Estou de pé, a olhar pela janela o meu passado e o meu futuro. Estou no passado e foges-me para o futuro incerto…devia… sim, devia mesmo… ter-te impedido de fugir, prender-te a mim com laços… os laços que tenho agora a apertarem-se em meu redor… com laços que a neve não apagasse…como apaga já as tuas pegadas perdidas ao longe, no caminho…adivinho-as algures…

Fugiste no meu sono. Embrulhaste-te nos restos da noite e saíste porta fora, vestida de neve. Só eu sei o que me custou não me ver no reflexo dos teus olhos. Procurar-te em todo o lado, até debaixo da cama, até dentro de mim… se a neve caísse no meu coração… Antecipar-te fugida antes de o saber… Sabê-lo afinal, sabendo-o já antes… Ai… Fugiste hoje, ou terá sido ontem?... Anteontem? Há uma semana, ou um mês? Quando foi que no teu coração a neve e a noite me apagaram e me cobriram de portão, de curva do caminho e de caminho para lá da curva?... E eu embrulhado na noite a tiritar de frio de encontro às memórias do teu corpo, aos lugares do teu corpo, aos relevos do teu corpo.

Fugiste…


27-03-2004

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